17/06/2020
Workshop dado por Joro (Georgi Petkov) nos EUA em maio de 2002
Para compreender o papel da música na Escola do Mestre Beinsa Dunó, precisamos primeiro ter conhecimento de duas coisas: o que é em essência uma escola espiritual e, em particular, o que era a escola de Petar Danov. Infelizmente, hoje as fontes de informação sobre as escolas espirituais do passado são escassas. Muito pouco foi escrito sobre a vida interna nelas e sobre a essência do conhecimento ali transmitido. Quem quisesse entrar em uma dessas escolas era testado através de dificuldades de vida artificialmente criadas, nas quais tinha de provar seu valor e qualidades interiores.
As escolas antigas eram secretas para seus contemporâneos, assim como o são para nós hoje. Raros conseguiam penetrar no interior de suas paredes. O caminho para o Conhecimento só se abria para os que passavam pelos testes. Para estes, a Escola se tornou uma fonte de conhecimento de vida – da vida completa, infinita e sempre renovada, da verdadeira essência humana – a Alma!
Por que os testes eram necessários? Para checar o nível de consciência dos futuros discípulos. Uma pessoa imersa nas preocupações materiais da vida diária poderia não compreender e absorver o conhecimento transmitido na Escola. Isso exigia uma consciência elevada e iluminada, cujos esforços não fossem dirigidos por interesses egoístas, mas pelos do Bem Comum e do Todo. Tal consciência tinha de se colocar a serviço dos outros. Por isso, os candidatos a discípulos eram provados durante meses e às vezes anos, para se saber se estavam prontos, e se eram dignos de receber o conhecimento. Assim funcionavam as escolas espirituais do passado.
E com o Mestre? A escola de Beinsa Dunó era significativamente distinta das precedentes. Havia, essencialmente, dois elementos básicos: todo o mundo que buscasse o Conhecimento podia entrar e, em segundo lugar, adquirir uma profunda compreensão da essência da Vida. Qual é a diferença, o que é novo nesse ensinamento? Está nas Escrituras: “Buscai a Verdade e ela vos libertará”. O Mestre que, como o Espírito da Verdade, veio em nossa época para iluminar a mente das pessoas, tem o dever sagrado de obedecer à Grande Lei Universal da Liberdade.
Ele dava liberdade a qualquer pessoa que desejasse aprender e entrar em sua Escola de Vida. Ninguém era mandado embora, a ninguém era negado o direito de ouvi-lo. Pessoas de qualquer esfera da vida, faixa etária, profissão, nível de instrução ou crença religiosa o procuravam. As portas estavam abertas para todos! Não se usavam provas como meios externos para eliminar candidatos. Como, então, pessoas de qualidades de consciência e níveis de conhecimento filosófico tão diferentes conseguiam chegar à Escola sem ser selecionados e permanecer satisfeitos e agradecidos pelo conhecimento que recebiam? Como compreendiam o ensinamento? Havia realmente uma falta de preparação?
Na realidade havia uma preparação – era a música! Aqui vemos o primeiro objetivo significativamente importante da Música na Escola do Mestre Petar Danov. Suas palestras eram sempre precedidas de música oculta, criada segundo leis naturais incomuns. Com suas vibrações, ela introduzia um elemento especial de expansão de consciência, habilitando-a a apreender mais facilmente as grandiosas verdades que o Mestre trazia dos mundos superiores. Por isso não havia testes. A música permitia a todos se harmonizarem para compreender a Palavra. E havia algo mais importante. Todos participavam da execução, em vez de apenas ouvir passivamente. O canto em coro, antes de cada palestra, era um método para cada um sintonizar sua consciência com as forças cósmicas positivas, que elevavam os alunos a um mundo mais alto – o mundo das Ideias.
Eis como o Mestre explica o processo:
“O homem é criado de acordo com as leis da música natural, que regem o Universo inteiro. A música cria um estado interno de compreensão entre ele e o Criador.” Quando cantam, os seres humanos ingressam no mundo de Deus e se unem com os seres inteligentes que vivem lá. Nosso organismo tem sua própria chave especial, que está em sincronia com os ritmos da Natureza. Com a ajuda dessa chave, tudo na natureza humana se transforma em movimento rítmico vivo. Cantamos não apenas para nos divertirmos, mas para ativar forças. A música torna possível a mais poderosa transformação de todas as energias na direção ascendente. Através dela, o homem evoca pensamentos divinos. “A música é uma lei no interior do pensamento humano.”
Mas a mera presença física de alguém na escola era suficiente para transformá-lo em discípulo? Uma vez que o acesso à escola era livre, qualquer pessoa recebia conhecimento lá? Claro que não!
Apenas aqueles que compreendiam o significado do conhecimento aplicado à vida real eram verdadeiros discípulos da Escola. O Mestre era explícito: “Se o discípulo não trabalhar sobre si mesmo, não conseguirá usar o conhecimento adquirido aqui. Esta é a condição: trabalhar-se! Como? Com os métodos do Mestre, entre os quais a música.
O segundo objetivo da música na escola de Beinsa Dunó refere-se ao empenho individual necessário para todo aquele que queira aprender conscientemente – além do coletivo. Por um lado, dava-se na Escola um trabalho consciencioso de aperfeiçoamento espiritual coletivo, no qual a música servia para a afinação e harmonização. Por outro, ela era um lugar para o autorrefinamento pessoal, igualmente auxiliado pela música.
Em primeiro lugar há o movimento do Mestre em direção ao aluno, oferecendo-lhe esclarecimento e enriquecimento espiritual; em segunda instância, é o discípulo que se volta para o Mestre, assimilando o ensinamento transmitido. Em ambos os casos, a música é um método, um meio auxiliar, uma força que acompanha constantemente o trabalho na Escola. E assim foi desde o comecinho, em 1922. O Mestre inaugurou um trabalho espiritual intensivo, que consistia em apresentar um novo conhecimento sobre a vida interior da alma humana, as leis da Natureza, o homem como parte do Todo e outros temas profundamente conectados à evolução da consciência. Paralelamente, ele começou a criar as canções que chamou inicialmente de exercícios musicais, de acordo com sua função. Por meio delas, o Mestre desenvolvia certas qualidades em seus alunos.
De acordo com Petar Danov, “no plano físico a música tem o objetivo de engrandecer a consciência humana. Por meio dela, o mundo espiritual eleva a alma humana caída. Quando a pessoa canta, sua alma se expande e, quando não o faz, ela encolhe. Para isso a música foi dada aos seres humanos – para ampliar sua alma e elevá-la a níveis mais altos. Através dela, sentidos sublimes são despertados. A música eleva, enobrece e educa os seres humanos.”
Essa necessidade fez com que o segundo ano da classe oculta fosse dedicado quase inteiramente à música. Nesse período, houve muitas palestras sobre a essência filosófica da música, sua significação para o homem e a maneira de usar seu poder.
Em 1923 e nos anos posteriores, com muita frequência o Mestre aparecia no pátio de conferências com seu violino e ensinava novas canções aos alunos. Continuava a chamá-las de exercícios musicais ocultos. Essa música continha algo luminoso e sublime, mas isso estava oculto em uma forma tão natural que não era percebido por quem não tinha despertado espiritualmente. É nesse elemento oculto não compreensível que se situa o poder dessa música; ele está envolto nas vibrações musicais e funciona sem ser notado. O Mestre explica:
“As vibrações da música oculta são mais curtas e mais fortes, adaptadas à expansão da consciência. Em sua essência, a música oculta é muito simples, mas exteriormente é complicada. Ela se destina apenas a pessoas com a consciência liberada e desperta.” (Do shte den – Chegará o dia).
Cada uma das canções do Mestre será um dia desenvolvida em uma sinfonia.
De modo geral, as canções podem ser divididas em três grandes grupos, de acordo com o texto e conteúdo. Esse conteúdo reflete quase todos os temas discutidos pelo Mestre nas palestras. Os grupos são:
I. CANÇÕES SOBRE A NATUREZA
II. CANÇÕES SOBRE OS BÚLGAROS
III. CANÇÕES-PRECES E MEDITAÇÕES
I. No primeiro grupo, Canções sobre a Natureza, encontramos imagens do mundo ao nosso redor, iluminadas pelo Grande Amor e transformadas em uma fonte de conhecimento novo a respeito da Natureza. Cada canção, não importa quão curta seja, ensina o que precisamos saber para nos tornarmos parte da Natureza.
“O Sol nasce. Envia Luz. A Luz proporciona alegria e Vida.”
(Exercício no 16 da Paneuritmia – O Sol nascente)
“És o único, meu Mússala, lugar sagrado, pico de Deus.”
Aqui, a gradação ascendente na melodia leva o ouvinte a esse alto pico de montanha, simbolizando a busca da alma pelas alturas – de onde tudo fica mais claro e mais fácil de perceber.
“As flores se abriram aos raios do Sol.” Outra imagem enriquecida pela ideia incorporada no texto – as flores, vestidas de pureza e beleza, trazem-nos juventude. (“As flores estão desabrochando”)
Em ainda outras canções sobre a Natureza – “A linguagem da Natureza Viva”, “O chamado da Montanha”, “A pequena Fonte”, “A canção do Alvorecer”, o Mestre cria um novo imaginário, espiritual, puro, que impulsiona o ser humano para uma vida elevada, ligada à Beleza e ao Bem, conectada com a Natureza!
II. O segundo grande grupo consiste em canções criadas no estilo folclórico familiar aos búlgaros. A melodia é caracterizada por compassos irregulares provindos de um passado distante. Elas fazem vibrar cordas especiais da alma búlgara, e não por acaso: esse é o alvo dessas canções. Por meio delas, o Mestre trabalha sobre a essência espiritual desse povo, rejuvenesce-o, dá-lhe exemplos, e ensina-lhe como é a vida virtuosa, ajudando-o a se livrar do pesado carma acumulado no passado. Alguns exemplos:
“Dê, dê, doe tudo”, para livrar-se do carma que você acumulou através dos anos.
“Tenha Fé”, porque só quem crê consegue suportar as dificuldades e resolver corretamente todos os problemas da vida. “Dor e tristeza são riquezas” ocultas em sua alma; se você as usar para seu benefício, conquistará um futuro melhor.
“Levante-se, minha filha, precisamos ir para a colheita”, chama de manhã a Nova Mãe, que compreende seu papel de educadora da nova geração.
“Meu Filho”, diz o Novo Pai, “não escolha uma noiva de noite” – mas siga sempre leis sensatas. “Liliana, leve-me montanha acima, até onde nasce a fonte”, diz o rapaz para a Nova Mulher, que só apanha água nas nascentes das altas montanhas.
“Minha querida Mamãe, meu sol nascerá hoje”, diz, também para si mesmo, o Novo Rapaz. Ele sabe que, se o sol de sua vida não tiver nascido, ele não cumpriu suas obrigações de filho.
Nessas imagens e símbolos resumindo os traços do Novo Búlgaro, o Mestre infundiu uma força capaz de libertar esse povo de seu passado problemático e conduzi-lo pelo brilhante caminho de Amor, Sabedoria e Verdade. O Novo Búlgaro dessas canções sabe que “o sol de Deus brilhará hoje”, isto é, a Escola do Mestre está aberta para todo aquele que busca a Luz (“A Marcha dos Seres de Luz”).
III. No terceiro grupo de canções, encontramos de novo imagens claras e a profunda afirmação do grande conhecimento incorporado em seu conteúdo. Parte delas se baseia em versículos da Bíblia:
“Bendize ao Senhor, ó minha alma!” – Salmo 103
“Eu me alegrarei” – do texto do profeta Isaías (61, 10: “Transbordo de alegria em Iahweh, a minha alma se regozija no meu Deus”)
“No princípio era o Verbo” – primeiros versículos do Evangelho de São João (1, 1) e
“Houve um homem” – versículos posteriores do mesmo Evangelho (3, 1: “Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus.”).
A conexão que se faz ao cantar esses antigos textos sagrados é muito útil no sentido espiritual. Existe um contato entre a energia incorporada nos textos e a força da música adicionada a eles. São canções-preces para promover uma profunda unidade interior com os seres mais elevados, com tudo que protege o homem e o ajuda na evolução.
Outro grupo de canções apresenta um interesse particular e tem um efeito muito poderoso, graças à língua desconhecida em que foram escritas. Alguns, incorretamente, pensam que esse idioma seria o sânscrito. Na verdade, a língua usada em canções como: Neva Sanzi, Venir Benir, Venu Behar, Ain Fasi, Mahar Benu Aba, Kiamet Zenu, Fir Fiur Fen é ainda mais antiga que o sânscrito. É a chamada língua Vatan – o idioma dos primeiros seres humanos – que não é falado por ninguém há milênios. O Mestre diz: “Esse é um idioma sagrado, intraduzível para as pessoas de hoje”. O significado da letra dessas canções só pode ser compreendido através de profunda meditação e concentração. Em alguns casos o Mestre descreveu o que querem dizer algumas palavras isoladas, como uma imagem ou um sentimento, mas não é possível obter precisão e uma percepção única para todos. O efeito e o significado dessas canções dependem, para cada indivíduo, de seu nível de consciência.
Uma parte significativa das canções do Mestre expressa sua atitude interior em relação ao mundo circundante, sua experiência e as imagens que ele trazia na alma enquanto vivia na Terra. Em “Deus é Amor”, “O Espírito de Deus”, “O Amor de Deus me iluminou”, “Fale-me da Luz, Raio Divino”, “Oração” e outras, encontramos elevada sensibilidade e uma Alegria profunda e oculta – sentimentos que só Espíritos Iluminados conseguem verdadeiramente manifestar. Não se dá o mesmo nas canções: “Vaguei por florestas e montanhas”, “Longe”, “A Terra prometida”, “Tempestade” e “No deserto da vida”. Aqui aparece o sentimento de responsabilidade e prontidão para cumprir a missão: responsabilidade em relação Àquele que o enviou para trabalhar pela elevação da alma humana. A tristeza é expressa nessas canções não apenas pelo texto, mas também através da tonalidade menor, transmitindo o sentimento da dor de uma Grande Alma.
O maior sofrimento desse Espírito Elevado, que veio das mais altas esferas do Universo, se mostra na canção “Sou um estranho neste mundo”. Neste mundo o Mestre não conhece ninguém a não ser Deus. Por quê? Porque ninguém vive um amor verdadeiro e ele pode confiar apenas em Deus. Porque só Deus é Amor.
“Sou um estranho neste mundo, e não conheço ninguém exceto Tu, meu Senhor Soberano.”
Beinsa Dunó cantou essa canção – muito sagrada e íntima – uma única vez, no Monte Vítocha, quando uma irmã lhe pediu: “Conte-nos quem é o senhor como alma!” Depois desse dia, ele nunca mais se referiu a ela, nem ninguém a executou durante sua vida.
Deus criou tudo para aquele que desceu para manifestar esse Amor entre as almas humanas abatidas. “Estranho neste mundo”: esta talvez seja a definição mais precisa do que o Mestre era aqui na Terra.
Assim como a Palavra, a música estava disponível para todo o mundo na Escola. Todas as 150 canções que o Mestre criou foram colocadas à disposição dos discípulos para um trabalho sensato e consciente. Cada aluno que adotou a música como método de trabalho interior alcançou grandes resultados. Seu potencial para a cura, para tonificar e transformar as energias, ou mesmo para obter êxito na vida, é imenso. O Mestre sempre enfatizou esse poder em suas palestras, sempre incentivou os discípulos a usarem-no. Eis o que ele diz: “Cantar é uma força poderosa na vida. É uma forte corrente, na qual cada célula do nosso corpo canta. Através da música, até a carapaça mais dura ao redor do homem se dissolverá. Ela pode ser comparada ao Sol. Tem a faculdade de derreter o gelo, o ódio e os pensamentos negativos. A música fornece o impulso para realizar ações nobres. Deveríamos cantar e tocar a fim de superar os obstáculos da vida. A música pode ser usada como defesa. Ela protege a pessoa das condições desfavoráveis como uma espécie de armadura. Onde quer que a pessoa vá, estará em segurança.” Era assim que o Mestre instruía e estimulava os discípulos. Na verdade, a música promovia a harmonia e o equilíbrio internos na Escola, necessários ao trabalho espiritual. Na Escola se ensinava a ciência da vida. Seria possível transmiti-la sem a participação da música?
O próprio Mestre responde a essa questão: “A pessoa deve compreender a música para poder entender a vida. A vida real depende da música para se manifestar; elas não podem ser separadas. Quem não compreende a vida como música não consegue viver do modo correto. O lado externo, visível, da vida consciente começa sempre com a música.” Era o que o Mestre fazia. A vida consciente na Escola ele iniciava com a música – criando, executando, vivendo com ela e trazendo-a constantemente no coração, seja como Alegria ou como Tristeza, incorporadas na canção ou melodia, nas mais puras imagens!
Por fim, para responder em poucas palavras à questão do que exatamente a música significava na Escola de Beinsa Dunó, podemos dizer: ela era um meio auxiliar para transmitir a Palavra, uma ajudante do Espírito. “O Mundo Superior só pode se expressar por meio da música”, diz o Mestre. Por isso Ele, um mensageiro dos mundos elevados, escolheu-a como seu assistente no cumprimento de sua grandiosa missão. Ele afirma: “Quando faço música, estou trabalhando! O que toco hoje se espalhará pelo mundo inteiro e afetará a todos. Nada pode resistir a esses tons; eles são como luz e calor que derrete a neve e o gelo. Enobrecem e educam. Essa é uma música sagrada!”
A Escola do Mestre é confinada a uma época? Seria possível um feito tão grande estar restrito a vinte ou trinta anos? Claro que não!
O Espírito Humano é independente da Lei do Tempo e Espaço, dimensões que não existem para ele. E qualquer pessoa que tenha seguido seu caminho através dos séculos e tenha chegado à Escola do Mestre, pode parar e ouvir, através da porta semiaberta, uma música serena – a Música do Despertar...
Acréscimo:
Nikolai Doynov (pai de Ina Doynova) uma vez aproveitou uma parada em uma excursão à montanha para perguntar como o Mestre criava as canções. A resposta: “Não! Elas não são minhas! Eu apenas as tirei dos mundos Superiores e entreguei a vocês.”
Ele escrevia a letra em um quadro negro e três talentosos músicos anotavam as notas musicais – o Mestre gostava que os discípulos participassem da Obra Divina. Almas especiais, avançadas, encarnaram com ele para ajudá-lo no Trabalho.