26/02/2018
A pedra presta um grande serviço para conhecermos as primeiras imagens que a alma humana produziu no Brasil, numa época em que isso acontecia com o homo sapiens em outros pontos do planeta, como Europa, Estados Unidos e África do Sul. A pedra foi uma grande amiga da alma e recebeu pigmentos com os quais os habitantes do Brasil faziam imagens.
A palestra "Alma na Pedra", ministrada pelo analista junguiano Roberto Gambini no Encontro de Culturas do Mundo 2018, é baseada em uma teoria de ponta sobre o povoamento da América, muito mais antiga do que se acreditou até hoje.
A arqueóloga brasileira Niède Guidon mostra, com seus trabalhos na Serra da Capivara, Piauí, que há 50 mil anos ou mais havia humanos habitando essa região, pois foram encontradas pedras numa profundidade correspondente a 49 mil anos, dispostas de maneira circular, portanto utilizadas para fazer fogueiras, preparar alimentos, para ter luz e fogo. Há aproximadamente 12 e 14 mil anos atrás, os povos que estavam nessa região pintavam nas paredes de pedra dos abrigos, onde os caçadores nômades passavam algum tempo com o seu bando. Essas imagens podem ser compreendidas sem dificuldade: são pessoas interagindo, caçando, lutando - talvez contra invasores -, praticando o amor e o sexo, dançando e em rituais. Uma pintura recorrente em várias dessas paredes é a de um ritual envolvendo uma árvore.
Esta é a certidão de nascimento do povo brasileiro e muda várias ideias erradas sobre o surgimento do Brasil. Temos uma linhagem de altíssima sensibilidade humana e a noção de que há um “nós” lindo de 12 mil anos atrás, rompidas especialmente na chegada dos portugueses, pela terrível desvalorização da cultura, da alma e das contribuições indígenas para a formação do povo brasileiro. Sendo que a mãe do povo brasileiro, como dizia Darcy Ribeiro, é uma mãe índia. É disso que Gambini - autor de livros como 'A voz e o tempo reflexões: para jovens terapeutas' e 'Espelho Índio' -, fala nessa palestra, mostrando imagens das pinturas e tecendo comentários.